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O que querem as mulheres?

Texto publicado no Jornal Estado de Minas! Confira aqui na íntegra!

Em meio a tantas discussões sobre assédio, denúncias surgindo de todas as partes, mulheres com grande visibilidade abrindo portas para que o grito de outras tantas seja, enfim, ouvido, há uma tendência de ressignificação das relações afetivas, uma vez que não é claro para algumas pessoas o limite entre abuso e paquera. Existe um movimento de mulheres que se afinam em um pensamento comum sobre as regras e normas que permeiam as relações afetivas e o surgimento de uma constatação de que há um certo engessamento nessa troca. Observando isso, me pergunto se essa rigidez seria boa ou ruim.

Consigo ver com clareza a diferença entre assédio, abuso e falta de respeito na aproximação entre as pessoas que desejam ou se interessam em conhecer melhor o outro. Também é fácil fazer essa diferenciação quando alguém se aproxima para demonstrar admiração: olhar, admirar e iniciar uma conversa. Ao mesmo tempo, é perceptível quando alguém nesse “jogo” é forçado a se submeter ao outro por exigência, abuso do poder ou por consequência de alguma patologia.

Quando acontece de quem está sendo admirado se interessar por quem está admirando, é uma maravilha: está tudo certo! Porém, se não há desejo mútuo, cria-se um incômodo, gerando constrangimento e até ofendendo a, neste caso, vítima. A partir dessa insatisfação, reclama-se da forma, das palavras, da mensagem que a abordagem carrega, que muitas vezes são diferentes para quem fala e para quem ouve. Quantos mal entendidos há na nossa comunicação, quantos barulhos e como é truncada por quem envia e para quem recebe. E, por mais irônico que isso pareça, esse desencontro acontece ainda mais com aquelas pessoas que estão mais próximas umas da outras.

Porém, é importante enfatizar o cuidado que devemos ter para não nos isolarmos, cada vez mais, em nome desse respeito, por temermos esse suposto abuso ou assédio. Hoje, as redes sociais e a tecnologia parecem nos proteger do contato, ficando tudo atrás da tela, no virtual. Isso pode criar também uma dificuldade para o real, o corpo a corpo, o face a face, o olhos nos olhos, a expressão e a percepção dos sentimentos, características impar do ser humano e movimento vital para qualquer tipo de relacionamento. Acredito que todos precisamos fazer uma distinção bem definida do que é abuso ou assédio e o que é admirar, cortejar, elogiar, expressar o que de bom sentimos pelo outro, para que cada um de nós não fique impedido desse encontro, desse contato tão necessário para nos nutrir emocionalmente.

Uma coisa são os pedófilos, os abusadores, estupradores, os doentes, como o personagem Vinícius, da novela “O Outro Lado do Paraíso”, tão bem colocado na sua doença e loucura. Vemos todos os dias estampadas nas capas de jornais manchetes sobre treinador abusando de suas alunas ou ator de cinema se aproveitando da fama e do poder para subjugar os coadjuvantes.

Isso é inaceitável e precisa parar. Bem longe desse tipo de abordagem não-consensual, que fere e inferioriza o alvo, é o amor, o ato de se apaixonar e se declarar, a parceria amorosa. Precisamos da sedução, do chegar perto, do olhar, do encantar, do tocar, da gentileza e da delicadeza, pois, se não houver isso, fica impossível conviver, e aí, nos tornaremos perdidos em nós mesmos.

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